domingo, 6 de novembro de 2011

À conversa com...


Ismael Prata

Licenciado em arquitectura, é na fotografia que encontra a sua maior satisfação. Confessa ter 'tropeçado' na fotografia em 2008 e foi por essa altura que descobriu o que sempre fora óbvio, mas que nunca fora valorizado - a paixão pela fotografia de moda.
Apesar da - ainda - curta carreira, conta com um reportório bastante alargado. Sigo o seu trabalho há bastante tempo, e o vídeo que realizou do Portugal Fashion foi o mote para esta entrevista.




. Conte-me um pouco a sua história, quando começou a paixão pela fotografia?

Na verdade a paixão pela fotografia foi algo que sempre existiu, mas nunca foi uma evidência para mim, nem nunca me passou pela cabeça a hipótese de me tornar fotografo de moda. Gosto de dizer que foi preciso praticamente 'tropeçar' na fotografia. Isto aconteceu em 2008 quando na minha faculdade (onde me formei enquanto arquitecto) surgiu um workshop de laboratório de fotografia, senti-me curioso e alinhei. Pedi a Nikon FM2 ao meu pai, e comecei assim na brincadeira com a fotografia analógica. Desse workshop resultou um projecto de fotografia que acabou por delinear o tipo de fotografia que ia desenvolver daí em diante, que seria fotografia de moda. Mas essa hipótese só voltou um ano mais tarde, no verão de 2009, desta vez já com fotografia digital. Por essa altura estava a passar uma fase complicada na minha vida, e a fotografia foi o meu confortável refugio na qual não só virei dependente como fiquei apaixonado. E desde então tem sido uma experiência fantástica e muito gratificante.


. Como é o seu dia a dia?

O meu dia à dia é algo difícil de definir pois tem diversas fases ao longo do ano. Um dos bons aspectos em ser-se fotografo é ter-se bastante liberdade para gerir horários e agenda. E portanto rotina é um conceito abstracto para um fotografo de moda. Contudo, quando a minha agenda está organizada e não tenho trabalho em atraso, gosto de me levantar por mim mesmo, sem despertador, fazer um pouco exercício físico no exterior, voltar a casa, responder a emails e consultar alguns blogs, ouvir muitas musica (sempre), fotografar durante a tarde, e deixar a noite para a pós-produção, família e amigos.


. Qual foi a maior barreira que teve de enfrentar na sua carreira? 

É difícil apontar uma em especifico. Talvez tenha sido alguma falta de formação técnica, pode ter sido a dificuldade da industria em acreditar num fotografo tão novo, como pode ter sido a minha falta de meios e equipamento. Hoje em dia 'qualquer pessoa' pode ter uma máquina, mas dificilmente por isso se torna fotografo. É preciso dedicação, mas não basta só vontade. É necessário também ter uma serie de condições, equipamento, e se possível um espaço onde trabalhar. Talvez tenha sido essa uma das principais barreiras à minha evolução, pois muitos dos trabalhos que faço, para não haver despesas de estúdio, acabo por fazer no meu apartamento (por ridículo que pareça) sempre limitado de equipamento e grandes produções. E ao final de algum tempo torna-se difícil fazer algo de novo e experimental quando os recursos são escassos. 


. Para o sucesso de um fotografo o que é que é realmente importante?

Para mim, existem dois ingredientes importantíssimos para a evolução na fotografia de moda. Um primeiro será a paixão pela arte da fotografia de moda. É preciso vibrar com este tipo de fotografia para isso depois transparecer nos resultados. A paixão é essencial no nosso trabalho, se um fotografo não está a fazer um trabalho de forma apaixonada, o resultado sai incipiente, sem energia e inspiração. O segundo ingrediente anda de mãos dadas com o primeiro, que é cultivar o conhecimento. Ver muita fotografia, comprar revistas mensalmente, comprar e folhear livros de fotografia, ver vídeos, conhecer os fotógrafos de vanguarda, os fotógrafos do momento, falar com pessoas do meio, discutir trabalhos e ideias, e fazer isso tudo de forma apaixonada. Sem isso, é impossível crescer.


. O que mais o inspira na hora de fotografar?

Procuro sempre formas de beleza subliminal e energia em cada fotografia. Sempre que vislumbro algum detalhe ou me ocorre alguma ideia que possa reproduzir num frame lindíssimo cheio de energia, torno-me ferozmente apaixonado por essa ideia e trabalho arduamente para a obter. Essa energia tem que ser sentida. Procuro sempre catalisar essa energia nas/nos manequins e transpor isso na fotografia. Alguns manequins já têm essa atitude e energia de forma inata, mas outras/os, com alguma inexperiência, é preciso puxar por elas/es para obter frames com força que cative o observador. Procuro também ter sempre musica também comigo, pois ajuda a tornar mais fácil o trabalho do fotografo, da modelo e toda a equipa.


. Como foi a sua entrada para o universo da moda?

A indústria da moda em Portugal é actualmente muito pequena, todos se conhecem, é quase familiar, e bastante fechado. E não é fácil conquistar o nosso espaço e reconhecimento num meio que está habituado a recorrer sempre aos mesmos. Todavia até me considero privilegiado pois cedo fui obtendo bastante receptividade junto das agências, posteriormente algumas marcas, e agora mais recentemente algum crédito junto de revistas.


. Quem gostaria de fotografar?

risos) A nível nacional gostaria de repetir manequins que já fotografei como Alina Boyko e Sara Sampaio, pois são manequins fantásticas mas que quando tive a oportunidade de as fotografar não tive maturidade profissional para saber aproveitar e fazer umas fotos intemporais. Para alem dos casos que se repetem, existem outras manequins nacionais com as quais ainda não fotografei,tais como Milena Cardoso, Ana Paula, as gémeas Contreiras, Flor, entre outras que adoraria ter oportunidade de trabalhar.
Se o panorama for internacional, então a ambição passaria por fotografar manequins como Candice Swanepoel, Rosie Huntington Whiteley, Daria Werbowy, Anja Rubik, Abbey Lee Kershaw, Alessandra Ambrosio, Freja Beha, Isabeli Fontana, e toda uma restante lista de manequins femininos e masculinos que admiro muito quer pela sua beleza, quer pelo seu trabalho.


. Quais são os seus planos a curto prazo?
A curto prazo vou procurar acabar uma tese sobre a relação da produção de moda com a produção de arquitectura, nos anos 80 e 90. Procurarei ainda conseguir adquirir mais equipamento que me é essencial à evolução, e sobretudo, conseguir conquistar mais o espaço junto de revistas do meio.

. Se tivesse de eleger um dos seus trabalhos, qual seria?
Pensar num trabalho que se destaque é-me difícil e acaba por ser um pouco injusto, mas seria capaz de referir em primeira instância, um trabalho que não sendo de fotografia, mas de vídeo, me deu recentemente bastante projecção e um excelente feedback. Falo do vídeo que fiz no backstage da 29ª edição do Portugal Fashion. A nível de fotografia per si, não me é mesmo fácil eleger um, mas talvez indicasse o catálogo da Manjerica, pois revela mais alguma maturidade do meu trabalho, identifico-me bastante com quase tudo que foi feito nesse catálogo e também obtive um excelente feedback no meio.
Uma pequena amostra do seu trabalho:








Pode consultar mais aqui!
Adoro todo o seu trabalho.

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